quarta-feira, 9 de março de 2011

Agora.




E agora José? a festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu...

e agora bate aquela insegurança, não sei por que estou assim, ansiedade,  eu esperei por isso, me preparei, mas  eu sei que isso não adianta muito, a prática é sempre uma grande surpresa. 

Não sei bem o que escrever,  não vou escrever nada demais, já estamos em  março, e se tudo ocorrer como o planejado, na próxima postagem eu conto como foi o tal encontro *-*

Ah,  eu aprendi uma coisa nestes dias: Respeite as regras de segurança :|

Eu nunca leio a coluna de contos na Ilustrada da Folha de São Paulo, geralmente eu só leio a coluna do José Simão, mas estes dias eu com minha mania de ler tudo do fim para o começo, vi um título que me chamou a atenção juntamente com a imagem. Resolvi ler o conto e simplesmente adorei, resolvi postar aqui. Deliciem-se u.u

***
A Outra - João Pereira Coutinho


''O rapaz convidou as duas amigas. Para que o visitassem na cidade do Porto, sua terra natal. Um dia, uma tarde. Elas agradeceram o convite e prometeram pensar no assunto.

Ele entrou no carro, partiu e, enquanto cruzava as ruas de Lisboa, pedia a todos os santos para que só uma delas fosse ao seu encontro. Recriminou-se mentalmente por ter feito um convite duplo quando era a mais nova, a mais bonita, que ele desejava receber. Mas não tivera outra oportunidade e, perdido por dez, perdido por mil: para receber uma, teria que receber as duas. Era um começo.

Na semana seguinte, chegou a mensagem: iriam ambas, sim, em dia a combinar. Ele leu. Releu. Respondeu: que estaria à espera na estação de trem; que iriam almoçar, conhecer a cidade, beber e, com sorte, talvez a outra se cansasse de ser a outra e preferisse ficar no hotel. No amor e na guerra não há pensamentos nobres. Ou qualquer coisa assim.

Chegou o dia. Chegou o trem. Ele já estava na estação, junto à linha, encostado a um dos pilares. Saíram os primeiros passageiros, cabeças indistintas sob uma chuva outonal. Ao fundo, vislumbrou a outra. Acenou. Recebeu um aceno de volta. Ninguém mais acenou.

A outra aproximou-se, sozinha, e ele perguntou pela amiga.

Não havia amiga. Não tinha podido vir, disse-lhe a outra, razões pessoais, familiares, sentimentais, ele já nem escutava.

Com gentileza mecânica, pegou na sacola da outra, disse uma frase clichê ("Muito bem, estamos nós aqui, vamos aproveitar.") e arrastou-a para fora da estação.

Entraram no carro. Ele silencioso e a outra a preencher o silêncio com conversa banal. Começaram o passeio. Ele começou a debitar informações turísticas como se fosse um guia turístico: aqui, um monumento; ali, uma igreja; mais ao fundo, um jardim, um museu, uma livraria.

Entraram na livraria. A outra demorou-se pelas estantes. Ele ficou junto à entrada, a olhar para o relógio, a contar os minutos para que a noite viesse e a outra se fosse.
Caminharam pelas ruas da baixa. A outra fazia perguntas que ele só respondia à segunda vez, quando realmente as escutava. Por vezes, apercebia-se que a outra ficava para trás -um metro, dois- porque ele caminhava demasiado depressa. Então, ele parava, esperava, e retomavam a marcha até que nova distância se instalasse entre os dois.
Foi nas margens do rio que a outra resolveu parar. Ele perguntou se ela estava cansada. A outra sorriu com ironia e respondeu: "Podes dizer que sim".
Ele gelou. Desconversou: que poderiam sentar-se na esplanada, descansar, tomar um café. A outra preferiu sentar-se no cais e tirar um cigarro do bolso. Acendeu-o. Pausa longa. E depois disse-lhe: "Quero apenas que me leves à estação, por favor".
Ele gelou novamente. E desconversou novamente: que se passava, perguntou, acontecera alguma coisa? Ele fizera alguma coisa?
A outra recusou-se a comentar o óbvio. Olhou-o apenas com desprezo e murmurou: "É pena que não tenhas reparado que fui eu quem veio ter contigo".
Ele olhou para ela pela primeira vez naquela tarde, pela primeira vez em todas as tardes, como se a frase o tivesse despertado. Havia uma presença real ao lado dele; uma presença discreta, e também por isso discretamente bela, que fumava às pressas para não chorar.
Ele sentia vergonha e nada disse. E também ternura e também desejo. A outra levantou-se e, sem esperar por ele, caminhou para o carro. Ele seguiu-a -um metro, dois metros atrás dela. 
O trem partiu às sete da noite. E, ainda hoje, nos jantares de amigos, ela gosta de contar a história de como o idiota do rapaz lhe disse um adeus mudo na plataforma da estação. E de como ele lhe voltou a aparecer de repente na carruagem onde ela seguia sozinha, de volta. E de como se sentou ao lado dela. E de como se preparava para falar. E de como ela o impediu de dizer uma palavra que fosse, encostando os seus lábios aos lábios dele. E de como os outros passageiros se riram daquela cena patética. E de como se riram ainda mais quando o revisor surgiu minutos depois e o idiota do rapaz não tinha bilhete para apresentar. ''

Um comentário:

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